domingo, 30 de outubro de 2011

Conservar nossa história


Publicado na Voz em 28 10 2011
Passado o I Fhist, quero comentar o artigo publicado há duas semanas no Estado de Minas e republicado na Voz, sobre o trabalho que o meu amigo Belmiro faz há bastante tempo no Garimpo Real. Lá, ele demonstra como o garimpo era realizado, quando surgiu o Arraial do Tijuco. Atualmente, a atividade extrativista garimpeira praticamente acabou por aqui e a tendência é que continue assim, devido à incompatibilidade financeira entre esta atividade e as normas (necessárias) de preservação e recuperação do meio ambiente após a exploração. Parabenizo-o pela iniciativa e pelo trabalho já realizado, sempre muito atencioso, mostrando vivo entusiasmo com o que faz. A atividade garimpeira em Diamantina relaciona-se intimamente com o seu calçamento: na época do garimpo de aluvião, que era feito lavando o cascalho do leito dos rios, havia muita sobra de pedras roliças que eram amontoadas às margens dos rios e córregos. Uma maneira inteligente de reciclar estes seixos e ainda por cima, melhorar o piso do Arraial do Tijuco, foi a inteligente medida de usá-los para calçar suas ruelas e becos. Como a região de Diamantina tem escassez de terrenos férteis, os mantimentos vinham de regiões de terra boa, como São Gonçalo do Rio Preto, Rio Vermelho, e outros locais, em tropas de burros. Ao chegarem ao Arraial, o pisador de animais, junto com o esterco, devia virar uma lama só... O calçamento estilo pé-de-moleque, na época, foi uma bênção para os Tijucanos. Surgiu o século XX e os automóveis algumas décadas após. Concomitantemente, o garimpo de aluvião foi ficando escasso e houve a necessidade de explorar os morros e vencer obstáculos de à procura de ouro e diamantes. Para isso, passou-se a utilizar explodir grandes pedras. Perceberam que elas se abriam em grandes lâminas: as pedras-lage, que no garimpo atrapalhavam, mas da criatividade dos homens simples da época, imaginou para elas a utilidade de substituir as pedras roliças do calçamento, o que resultou num piso altamente regular e adequado ao tráfego de veículos e pedestres. Este ligeiro relato dá para se ter uma noção de como a atividade garimpeira deixou suas marcas até mesmo no calçamento de Diamantina e é uma justificativa que faz a inserção histórica de uma técnica de calçamento que surgiu em Diamantina no século passado, numa lição de criatividade que aliou a atividade econômica da época, o aproveitamento das suas sobras e o bem-estar dos habitantes da cidade. É preciso que a geração atual tenha conhecimento destes fatos para valorizar, tanto a atividade garimpeira, que fez a história da nossa cidade, o nosso calçamento, fruto da legítima criatividade e expressão de arte de um povo simples e laborioso e que soube nos dar ainda, uma lição de reciclagem, algo de que todos estamos precisando.
Ricardo Lopes Rocha

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