Caro leitor, a você que fez um comentário anônimo (leia o comentário na postagem abaixo) e a outros que também podem estar pensando o mesmo:
Em todo o processo de levar ao conhecimento do Sr prefeito para explicar o projeto, falar dos objetivos, de como pensava em realizar o Projeto Acerta Pedra, estava companhado do Sr. Fernando, de Gouveia, que também há algum tempo, transitava pela prefeitura à espera de uma chance de fazer algo parecido com o calçamento de Diamantina, inclusive até mesmo no Beco do Mota, em relação à restauração do pé-de-moleque de lá. Dele recebi muita colaboração, acompanhou-me na visita ao prefeito e agradeço por isso. Na prefeitura, fomos muito bem recebidos e na reunião com os calceteiros que tivemos na praça de esportes, houve troca de ideias com os operários que estavam presentes, discutiu-se as dúvidas que surgiam, etc.
O Sr. Rangel, o veterano da turma declara, nesta reunião, diz que vai ser necessário preparar os "traços" na pedreira, o que foi uma informação nova para mim. Ele esclarece que, para fazer um traço (que deve ser de 20 cm de espessura), as pedras que se usam são enormes e é imcompatível trazê-las para preparar na obra. Achei interessante este fato que eu tomei conhecimento naquele momento. Os traços devem vir prontos da pedreira. Resolvemos então que devíamos visitar uma pedreira e assim ficou combinado.
Após duas semanas, fomos à pedreira e vimos todo o processo: tipos de dureza das pedras, como se extrai, como são preparadas, etc. Os operários se disporam a preparar os traços para fornecer à prefeitura. Deste dia em diante, houve um afastamento, não se comentou mais sobre o assunto.
Sem haver novidades, fui escrevendo sobre outros assuntos na coluna semanal da Voz.
Em certo dia de setembro, se não me engano, antes da Semana JK, o secretário de obras, em encontro casual comigo na rua, me disse que o processo de licitação de matacões estava em andamento. Noticiei este fato. O tempo continuou a passar e meus leitores queriam mais coisas e nada havia a informar. Se você pudesse acessar as estatísticas de número de acessos do meu blog, veria que as do mês de setembro foram muito baixas - porque, logicamente, eu não tinha nada de novo a declarar! A única novidade foi o fato de que a licitação seria para matacões apenas e não para matacões e linhas, como o combinado.
(Matacões são as pedras-lage, de formato irregular. Com eles, são preenchidos os "canteiros" que são os quadros formados pelo cruzamento das "linhas", dispostas longitudinalmente e transversalmente nas ruas. As "linhas" são pedras-lage de formato regular, que formam os "canteiros", e são preparadas na pedreira - são aquelas pedras compridas e regularmente recortadas que a gente vê na rua, separando as faixas de tráfego.)
A semana JK aconteceu (houve uma conversa de que seria interessante aprontar o trecho da São Francisco para a semana JK), e o silêncio continuou. Entendo que, para uma obra que irá esburacar todo um trecho de rua central com o intuito de melhorar e que vai ser alvo do julgamento da população, ela deveria ser realizada com o mínimo de transtorno para a população. O período ideal para isso acontecer já passou, pois as chuvas começaram e com chuva, a lama irá gerar muito desconforto, numa rua que já está calçada. Imagine: descalçar, eburacar todo um trecho de rua, impedir o trânsito, por um mês ou dois, e ainda por cima com lama, vai ser bem desconfortável, concorda comigo? Realizar o Projeto Acerta Pedra em época de chuva não será legal.
E outro detalhe importante: realizar tal projeto no ano que vem, não será de bom alvitre, visto que vai ser ano eleitoral. O momento ideal para a realização do projeto seria nos meses de julho a outubro, mas até agora nenhuma notícia, nenhum aviso de que as pedras chegaram.
Caro leitor: em respeito a você e a muitos outros, estou sendo realista e não pretendo criticar quem quer que seja, mas houve o silêncio por parte de prefeitura após a promessa de que iria realizar o projeto e isto eu posso declarar, porque é a expressão da verdade. A minha reação será, obviamente, descrever apenas os fatos que aconteceram e o que ocorreu foi isso que você acabou de ler.
Se eu postei aquela matéria entitulada "Projeto Acerta Pedra a pleno vapor" foi quando eu entendia que as pedras estavam realmente sendo preparadas, já que não vou à prefeitura todos os dias, pois o meu trabalho é na Universidade. Logicamente, limitei-me a esperar. Com a passagem do tempo e com a notícia (num encontro casual na rua) de que seriam comprados apenas matacões, fui percebendo que talvez não deveria haver uma real intenção de realizar o que me foi prometido, mas preferi continuar na espera.
Já preparei um artigo para a semana que vem, que, como sempre, vou publicar na Voz e depois postar aqui. Vou continuar escrevendo sobre o calçamento e vou expor fatos que muitos desconhecem sobre ele. O Manifesto Acerta Pedra vai continuar desta maneira, até que seja possível realizar o sonho de recalçar um trecho de rua. Obrigado pelas palavras de entusiasmo. Não tenho a intenção de desistir. Para algo que está esquecido há 70 anos, ser alvo de leitura de uma média de 100 pessoas por dia, para mim já é um passo interessante, pois, como eu próprio escrevi na postagem anterior: o mais importante é o resgate do saber.
Vou resgatar agora, aproveitando a deixa, que esta contribuição me foi dada no dia da reunião, na festa do Divino, à qual foram poucas pessoas, mas de qualidade que valeram por muitas. Antes, eu pensava apenas na restauração em si. Nesta reunião, durante a discussão, me disseram que o resgate desta técnica para os novos operários é que seria o fato mais importante.
Acredito que só de poder falar deste assunto e muita gente entender, muita gente pensar junto, muita gente querer junto e valorizar esta arte, já constitui uma vitória, posto que o calçamento estava relegado apenas às reclamações. Do Manifesto já colhemos o fruto de que muitos diamantinenses estão dando o devido valor a esta arte na qual pisamos todos os dias. Se prescisar passar mais um ano para realizar o sonho do recalçamento, vou aproveitá-lo para amadurecer mais e mais as ideias, aproveitar para adicionar as contribuições de pessoas como você à ideia inicial, assim como aproveito todas as opiniões que me são enviadas, seja pessoalmente ou por mensagens escritas.
Meu abraço a você a a todos que me acompanham. Estamos aí, firmes e fortes.
Ricardo Lopes Rocha